Malucos da BR: Casal barra-garcense viaja pelo Brasil desde 2007




Por Tuili Freitas

Há cinco anos Nathalia Ribeiro Rodrigues vendeu sua loja de roupas, “Tribus girl street wear”, para viajar pelo Brasil com seu namorado, Danilo Gomes Ferreira, autor do convite para esta aventura. Ele trabalhava numa empresa como vendedor de motos, mas abriu mão da carteira assinada para viver o que acreditava.

Ao chegar à morada do simpático casal, nota-se a simplicidade logo na fachada do lar. Moram numa casinha sem muro com uma enorme sete copas na calçada de chão batido, no Jardim Nova Barra, bairro afastado do centro de Barra do Garças (MT). Moram, mas não ficam no local por muito tempo.


As figuras
Nathalia tem cabelos emaranhados e “mechados” pelo sol, enfeitados com um dread de conchas que ela mesma pegou. Com vestido esverdeado, que alcança o peito dos pés, e com um chinelo cinza de couro, desfila para lá e para cá. Vaidosa, enfeita seus pulsos, tornozelos, orelhas e pescoço com peças que produz. Suas tatuagens, com profundos significados, espalham-se pelos ombros, pés, costas, braços e nuca. Adora falar e compartilhar suas experiências de estrada.

Danilo, igualmente falante, cabelos negros cacheados um pouco abaixo do queixo, olhos escuros, barba de mais ou menos 20 centímetros, sem camisa, bermuda bege, anda confortavelmente descalço pela casa. Simplória, tem poucos móveis, alguns até improvisados por eles. No piso vermelho do cômodo de entrada há um tapete azul marinho no centro cheio de peças, arames e alicates que o casal usa para trabalhar, porém o destaque é um quadro do revolucionário latino-americano Che Guevara.


A estrada
Ela com 22 e ele com 20 caíram na estrada pela primeira vez em 2007, deixaram tudo para trás e foram experienciar o que a vida quisesse dar. Partiram com um amigo, que seguiu outro caminho, logo na primeira parada, em Pirinópolis (GO), onde ficaram por dois meses. Depois seguiram Goiás acima, ficaram quatro meses em Palmas (TO), com destino a Chapada dos Viadeiros. Mas uma carona até Ilhéus (BA), onde mora a avó de Danilo, mudou a rota da viagem. Ficaram 11 meses fora, vivendo de, como dizem, “manguear” (vender, trocar, pedir).

Retornaram para Barra do Garças um pouco desiludidos, porque perceberam que um novo sistema havia surgido dentro do próprio sistema e que os “malucos” não eram mais só paz e amor. Mas estavam fascinados com “os mundos” que conheceram. Depois de ficarem aproximadamente um mês em casa, decidiram conhecer mais lugares, e que começariam pela região onde moram.


Nova viagem
Subiram Mato Grosso até São Félix do Araguaia em oito meses, sempre de carona. A primeira parada foi em Primavera do Leste. Lá, Danilo e Nathalia receberam uma proposta do tio dela. Ele ofereceu-lhes uma moto com compra facilitada por causa do documento atrasado. Levantaram o dinheiro nessa viagem e, já na volta, passaram em Primavera para a compra.

A estreia da “nova companheira do casal” ocorreu pouco mais de um mês, por Goiás. A viagem durou alguns meses. Na volta, após um intervalo de dois meses, o jovem casal passou quase dois anos viajando pelo Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte do País. Os dois conheceram regiões com belezas naturais fantásticas, conviveram com os mais diferentes tipos de povos, trabalharam, dormiram e comeram cada dia num lugar. “Você tem que saber colocar limite na sua relação com as pessoas, porque se não for assim, quando você vê, já está envolvido demais. E isso, para nós, não é bom”, conta Danilo. Amazonas, Pará, Amapá e Roraima são os únicos estados brasileiros que o casal ainda não conhece.


De novo, o retorno
Há menos de duas semanas de volta ao lar, dizem que vão ficar um tempo na cidade para arrumar alguns documentos, como passaportes e título de reservista. Nathalia vai acompanhar o pai numa cirurgia e pensa em fazer algum trabalho cultural no seu bairro enquanto estiver por aqui, em Barra do Garças. “Se a arte for apresentada às pessoas, suas vidas podem mudar completamente”, acredita. Danilo vai aproveitar o pit stop para revisar e soldar a balança da moto que foi danificado pela maresia.

A sensação de liberdade e a quebra do sistema são os aspectos que o casal mais valoriza na estrada. Para os dois, é uma forma alternativa de viver do próprio trabalho (artesanato) sem romper com o pensamento ideológico. São felizes dessa forma. Gostam de interagir com as pessoas que se aproximam quando estão na praça da cidade para conversar, desabafar ou apenas admirar o trabalho e aprendem muito com elas. São tantas culturas, crenças, histórias de vida que você vive vários mundo apenas ouvindo o outro (confissão de repórter; risos).  

(Texto elaborado na Oficina de fontes não-oficiais, ministrada pelo professor Gibran Lachowsky durante o I Simpósio de Jornalismo e Direito.)