Estudante-pesquisador avalia como chegou à ‘Garrafa Duarte’, com tecnologia para preservação de sementes


Ciência e Tecnologia


Agência Focaia
Vasco Aguiar


Fotos - Vasco Aguiar
Estudante do 5º semestre do curso de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Campus Araguaia, Gustavo Siqueira Duarte, desenvolveu uma nova técnica que visa à melhora da preservação de sementes de diversos tipos. A iniciativa foi batizada de “Garrafa Duarte” (foto ao lado) e resulta da injeção de dióxido de carbono (CO2) em garrafas pet, para a preservação das sementes.

A orientação da pesquisa, que chegou ao experimento, é do professor de engenharia de alimentos da UFMT, Campus Araguaia, Márcio de Andrade Batista, que revela como foi o processo para se chegar ao protótipo da “Garrafa Duarte”. Para Batista, “O aluno pesquisador precisa fazer a pergunta certa. Deve olhar a condição socioambiental e o espaço onde está inserido. Questionar de que maneira o que ele tem disponível de recursos pode servir como instrumento da pesquisa que faz. O Gustavo teve que pensar, indagar-se sobre questões que estavam sem solução, desta maneira surgiu a criação de sua tecnologia”.

O professor da UFMT (foto abaixo) vem se tornando conhecido no meio acadêmico brasileiro, como pesquisador-orientador de importantes pesquisas no campo da ciência e sustentabilidade. Batista ao desenvolver trabalhos com os estudantes em grupos de pesquisa, na iniciação científica, com prioridade na aplicabilidade da ciência na vida cotidiana das pessoas, tornou-se, neste ano, o único brasileiro na lista de 50 finalistas do concurso Global Teacher Prize. Com objetivo de incentivar o educador, a premiação se tornou uma espécie de Nobel de Educação, promovido pela ONG Varkey Foundation. Na verdade é a primeira vez em três anos, que um representante do país é selecionado para o concurso.

“Existem grandes talentos na universidade que podem produzir experimentos e tecnologias transformadoras, voltados para satisfazer as necessidades da sociedade e da indústria, basta apoiá-los e dar suporte acadêmico para que consigam prosseguir com suas investigações”, analisa Batista, ao se referir às experiências com grupos de pesquisas na universidade.

Se o professor consegue incentivar a pesquisa e apontar caminhos, o estudante tem pela frente o desafio e esforço para obter resultados nos experimentos, que no final, revelam-se importantes para a sociedade. É o caso do trabalho de Gustavo Siqueira Duarte, com a tecnologia que está em desenvolvimento, mas já apresenta resultados na prática para a agricultura. Conforme ele relata, o “resultado da 'Garrafa Duarte' serviu como um estimulo para que eu me engaje na área de pesquisas, inclusive já temos outros projetos em andamento”. 

Para entendermos melhor esta tecnologia, encontramos o estudante no campus Araguaia, da UFMT, que nos esclareceu os principais detalhes de seu projeto. A seguir, na entrevista concedida à Agência Focaia, ele revela como chegou à pesquisa e quais objetivos pretende alcançar, de agora em diante, com a “Garrafa Duarte”.


Focaia - Como surgiu a “Garrafa Duarte”?
Eu tive a ideia de fazer uma pesquisa com sementes, com a intenção de preservá-las por mais tempo, meu objetivo era ajudar as pessoas que cultivavam pequenas áreas. Levei o plano até o professor Márcio de Andrade, ele propôs a injeção de CO2 em garrafas pet, pois isso ajudava na maturação das sementes e fazia a conservação virar algo real. Isso até então não era feito na agricultura familiar, na verdade até hoje não existe equipamento deste tipo usado no campo, com o pressurizador isso seria possível. Foi uma ideia em conjunto, minha e do professor, ele como meu orientador me auxiliou neste processo, trabalhamos juntos desde o início.
 
De que maneira funciona este equipamento?
O dispositivo é composto por uma haste de inox conectada a um cilindro de dióxido de carbono (CO2), ele é acoplado a uma garrafa pet. Injetamos o dióxido de carbono dentro da garrafa com as sementes. Após isso, a fechamos e não existe mais contato com o oxigênio, só com o CO2 que está dentro da garrafa. Isso faz com que os microrganismos não se proliferem, já que eles se propagam a partir de oxigênio. Algumas sementes aumentam sua durabilidade em até dois anos.

Há quanto tempo vem trabalhando nesse projeto?
Mais ou menos cinco meses, foi bem rápido, já havíamos feito várias pesquisas nessa área. Me surpreendi com os resultados positivos em tão pouco tempo, isso mostra que nosso empenho surtiu efeito.

Qual a principal dificuldade encontrada durante o processo?
Batalhamos muito para chegarmos até esse protótipo, e como qualquer pesquisa, houveram vários desafios nesse percurso. Mas nada que nos fizesse querer desistir.

Você enxerga uma função social na sua invenção?
O agricultor familiar será o nosso principal beneficiado. Com a utilização da “Garrafa Duarte” ele poderá garantir ao seu comprador que não haverá nenhum microrganismo nas sementes utilizadas em sua plantação. Queremos difundir essa tecnologia a todos, e principalmente aos que tem menos acesso a novas técnicas na área agrícola. 

Vislumbra a viabilidade comercial deste dispositivo?
Acho que é difícil chegarmos até os que possuem mecanismos que possibilitem a comercialização de um produto como este. Não sabemos o que pode acontecer, o projeto está bem no início, mas não descarto nenhuma possibilidade. 

Pretende continuar na área de pesquisas?
Sim, e o resultado da “Garrafa Duarte” serviu como um estimulo para que eu me engaje na área de pesquisas, inclusive já temos outros projetos em andamento.