Em evento da Adufmat, professores analisam o orçamento da UFMT e criticam privatização da universidade pública

Política

Agência Focaia
Reportagem
Trycia Silva


     Foto: Trycia Silva 
Mesa formada por professores da UFMT, Campus Cuiabá. (da Esquerda para a direita) Lélica Lacerda, Marluce Souza e Armando Tafner.
 

Em evento realizado nesta sexta-feira (18) pela Associação dos docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmt), em Barra do Garças, professores debateram as perspectivas do financiamento da universidade pública, no que diz respeito ao orçamento e restaurante universitário. Com público formado por professores e estudantes da UFMT Araguaia, além de aberto para a comunidade acadêmica e realizado também por videoconferência, envolvendo a comunidade acadêmica de Sinop.

Durante o debate a professora Marluce Souza, do curso de serviço social, do Campus Cuiabá, uma estudiosa da dívida pública, afirmou que na apresentação do orçamento, a reitora da universidade apresentou números que não informavam o suficiente, na sua formulação, para que se tivesse convicção de que a UFMT estaria com dificuldades financeiras.

“A reitoria de alguma forma até nos convida a apresentar sugestões, só que ela não acata. Por mais que nossas sugestões sejam apresentadas. Até o momento ela tem convidado apenas para formar comissões para apreciar a proposta dela”, critica.

Os palestrantes, com base em documentação sobre gastos da universidade, disseram que a contratação de mão de obra terceirizada na UFMT, inclusive o RU, hoje é uma rede de subcontratação muito grande.

Souza, a partir da dissertação de mestrado de uma aluna que estudou os orçamentos da universidade de 2008 a 2016, do programa de política social, orientada pela professora, apresentou informações sobre o orçamento executado em 2008 a 2016, mostrando um crescimento das despesas da instituição no período.

Privatização

A UFMT obteve gastos com aumentos sucessivos. Em 2008, o orçamento executado foi no volume de 319 milhões de reais, em 2015 subiu para 734 milhões, em 2016, o volume de recursos foi na ordem de 851 milhões. Chegando em 2016 com orçamento quase 3 vezes maior que em 2008 para despesas e investimentos.

“Dentro de uma universidade que o corpo docente não cresceu, o corpo técnico de servidores reduziu drasticamente, os serviços terceirizados foram os que mais cresceram. Mesmo crescendo há uma incompreensão nos números”, revela a professora Marluce Souza.

O custo da vigilância e porteiro dos Campi da universidade de Mato Grosso chama a atenção, diz a palestrante. Por exemplo, em Cuiabá não tem a vigilância na entrada da universidade, nas duas guaritas. O volume de recursos em todos os Campi saiu de 2008 de R$ 1.700.000 para R$11.700.000 em 2016. Cresceu 557%, analisa a docente. 

“Como que um serviço sai de um milhão para onze milhões, nesse prazo, se ele não existe na universidade, ou se existe, existe em um percentual muito menor do que o orçamento nos indica”, observa Marluce Souza. Acrescenta que “Toda mão de obra do servidor técnico está sendo substituída por servidores terceirizados. Que não tem o mesmo comprometimento com a instituição, a mesma permanência, é uma rotatividade enorme das pessoas ali dentro”, argumenta.

O segundo palestrante, Armando Tafner, professor de economia no Campus Cuiabá diz que precisa haver uma revisão dos contratos. Uma diminuição dos trabalhadores terceirizados. “Serviço de terceiro ocupa vaga do concursado, que trabalha para a universidade, enquanto o terceirizado trabalha para a empresa”, relata.

Segundo ele, “Grande parte do lucro vai para a empresa de terceirização e a política de alimentação não pode servir ao capital privado. Alimentação dentro da universidade pública não é mercadoria”. Avalia também que “a reitoria acaba absorvendo esse discurso e repassando para dentro da universidade. É como se ela fosse o governo dentro da universidade”, revela Tafner, fazendo referência ao modelo neoliberal, implementado pela administração do presidente Michel Temer (PMDB).

O economista afirma que o verdadeiro papel da reitoria dentro da universidade é administrar os interesses da UFMT. “A reitoria tem que defender os interesses da universidade, tem que representar toda comunidade acadêmica. Que atenda as demandas da universidade perante o governo”, critica.

De acordo com dados da pró-reitoria de planejamento, apresentados pelos palestrantes, 53% do orçamento são gastos com serviços de terceiros, fora a alimentação. Ao todo 68% do custeio do orçamento são terceirizados, analisa.

PEC 95

Lélica Lacerda, professora de Serviço social na UFMT Campus Cuiabá, criticou a Proposta de Emenda Constitucional 95, conhecida como PEC do Teto, que congela os gastos por 20 anos, afirmando que o RU é apenas o primeiro corte, ele é a ponta do iceberg para outras mudanças dentro da universidade mato-grossense daqui em diante. 

Segundo ela, se seguir este modelo neoliberal de redução do espaço público, sem a valorização do ensino público de qualidade, “acredito que podem até fechar as portas”, desabafa, se referindo também a condição da UFMT.

Ao final, Lacerda afirma que a UFMT foi a universidade que teve menos corte, sendo 4 milhões em 2018, em relação às universidades brasileiras, no período analisado. A professora destaca a importância da luta dos estudantes em defesa da política de alimentação, neste momento político brasileiro. 

A docente analisa que, diante da mobilização dos estudantes, “um movimento histórico, a UFMT é a única universidade do país que ainda resiste ao aumento do RU”.