Política
Agência Focaia
Reportagem
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Vasco Aguiar
Fotos: Vasco Aguiar
Ciro Gomes recebe ornamento chamado "danhõ'rebdzu'a",
que simboliza
acolhimento e respeito pelo outro.
acolhimento e respeito pelo outro.
O pré-candidato à presidência da república pelo PDT,
Ciro Gomes esteve, nesta quinta (19), data em que se comemorou o dia
do índio no Brasil, na Aldeia São Marcos, em
Barra do Garças (MT). Acompanhado de sua
comitiva, incluindo o presidente de seu partido, Carlos Lupi, Gomes visitou familiares do
ex-deputado federal pedetista Mário Juruna, líder indígena falecido
em 2002 e único deputado federal indígena eleito no país. Durante o dia, o
presidenciável na aldeia xavante foi ao túmulo de Juruna e assistiu a apresentações de danças
típicas da comunidade (foto abaixo).
Em entrevista exclusiva à Agência Focaia, Ciro Gomes
afirma que a grande tarefa na questão indígena é promover a satisfação das
expectativas de integração, de modo que se preserve as identidades culturais
locais. “Estou ouvindo diversos especialistas, e tenho a ideia de propor um
debate nacional ao redor de um projeto de desenvolvimento”. O candidato
acredita que as pistas são óbvias, “o que precisa é sair do gesto da linguagem
e ir para a prática”, ressalta.
Em relação à demarcação
de terras indígenas, o presidenciável diz que se deve respeitar, a princípio,
as identidades antropológicas afirmadas. “É preciso simples e puramente demarcar,
garantir que a demarcação seja de fato praticada”, diz o candidato. Para ele,
muitas vezes a demarcação é feita, mas não lhe é dada a devida força, “por
absoluta falta de equipamento, de estrutura, como expressão setorial de
problema de colapso do serviço público”, aponta.
PEC do teto
O candidato se posicionou em relação à promulgação da emenda constitucional de teto dos gastos públicos, a PEC 95, que tem como objetivo a redução gradual e contínua das despesas primárias do governo federal para equilibrar as contas públicas. “Esta PEC tabelou os gastos do governo pelos próximos 20 anos com educação e saúde. Como você tem um natural crescimento vegetativo, expansão do custo de alguns insumos, isso simplesmente virou um torniquete que vai estrangular a administração brasileira a partir da saúde e educação”, lamenta o político.
Ciro afirma que é necessário haver uma contestação da população sobre esta PEC, e salienta que neste momento pré-eleições presidenciais, “nós devíamos exigir de todos os candidatos um compromisso de revogar essa aberração”. E acrescenta que “não dá para a gente fazer a farra de gastar o que não se tem, devemos dar a devida prioridade ao que temos”, justifica. O candidato à presidência, em tom de campanha, se comprometeu a “tentar revogar isso (PEC 95), e tenho afirmado por onde ando”, observa.
O candidato se posicionou em relação à promulgação da emenda constitucional de teto dos gastos públicos, a PEC 95, que tem como objetivo a redução gradual e contínua das despesas primárias do governo federal para equilibrar as contas públicas. “Esta PEC tabelou os gastos do governo pelos próximos 20 anos com educação e saúde. Como você tem um natural crescimento vegetativo, expansão do custo de alguns insumos, isso simplesmente virou um torniquete que vai estrangular a administração brasileira a partir da saúde e educação”, lamenta o político.
Ciro afirma que é necessário haver uma contestação da população sobre esta PEC, e salienta que neste momento pré-eleições presidenciais, “nós devíamos exigir de todos os candidatos um compromisso de revogar essa aberração”. E acrescenta que “não dá para a gente fazer a farra de gastar o que não se tem, devemos dar a devida prioridade ao que temos”, justifica. O candidato à presidência, em tom de campanha, se comprometeu a “tentar revogar isso (PEC 95), e tenho afirmado por onde ando”, observa.
Juruna e seu legado
Cacique José Maria (segundo
da esquerda), da Aldeia São Marcos, juntamente com Ciro Gomes (centro) e o presidente de seu partido (PDT),
Carlos Lupi (primeiro da direita), ao lado do túmulo
de Mário Juruna.
de Mário Juruna.
O presidenciável em cerimônia no túmulo do ex-deputado federal Mário Juruna, ressaltou a importância do único indígena eleito para o congresso federal. “Seu nome é um marco, pois foi o primeiro e infelizmente único deputado federal indígena no Brasil, mas que saiu da sua aldeia diretamente para representar seu povo, é uma lembrança de muita honra para mim”, discursa.
A história de Mário
Juruna começa na aldeia Namunkurá, em Barra do Garças, local onde nasceu. Viveu
até os 17 anos isolado do mundo exterior. Foi eleito cacique de sua aldeia, e se
tornou defensor dos direitos indígenas. Desde os anos 70, Juruna já estava
engajado em questões de seu povo, e em contato com a Funai, defendendo a demarcação de terras xavante. Em 1982
foi eleito deputado federal, pelo PDT/RJ. Ele criou na câmara a Comissão
Permanente do Índio e também organizou o 1º Encontro de Lideranças dos Povos
Indígenas do Brasil, com 644 caciques.
O legado do ex-deputado continua com
Mario Juruna Neto, 29 anos, casado e pai de dois filhos, ele carrega o mesmo nome de
seu avô. Ele é aluno do último ano do curso de enfermagem, na Universidade
Federal de Mato Grosso, em Barra do Garças (UFMT/CUA). Neto conta
que a sua chegada à universidade não foi fácil. “Aconteceram vários momentos
tristes durante a minha graduação, o acolhimento não foi o que eu esperava,
talvez pelo estranhamento dos demais por eu e mais uma amiga sermos os
primeiros indígenas nesta universidade”, relata. Juruna é otimista, “eu estou
muito feliz de estar próximo de concluir um dos meus objetivos, que é me formar
para tentar ajudar meu povo de alguma forma”, conta.
Mário Juruna Neto pretende seguir o legado de seu avô,
o ex-deputado federal Mário Juruna.
o ex-deputado federal Mário Juruna.
Sobre a possibilidade de
dar prosseguimento ao legado político de seu avô, Juruna Neto diz que muitos o questionam. “Mas tudo
tem seu tempo, primeiro vou tentar ser alguém na vida, dar qualidade de vida
para minha família, meus filhos e depois disso pensar na possibilidade”,
afirma. O estudante acrescenta que “se mais para frente surgir a oportunidade,
eu pretendo, sim, tentar ingressar na área política e seguir o legado de meu
avô. Eu sinto que sou muito cobrado por isso, e também por ter o mesmo nome
dele, mas vou pensar nisso só depois”, analisa.
O neto de Juruna avalia
que, caso não ingresse na política, pode dar prosseguimento ao trabalho de seu
avô de outra forma. “Posso contribuir para o povo xavante ajudando na minha
área de formação, contribuindo na saúde indígena. Segundo ele, “faltam profissionais que
realmente conheçam a nossa realidade”, finaliza.
Prisão de Lula e eleições
presidenciais
Ciro
Gomes desembarcou no Aeroporto de Aragarças (GO), e antes de seguir para a
Aldeia São Marcos, disse aos veículos de imprensa da região estar entristecido
com a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). “Para mim dói
muito no coração ter que testemunhar esses tempos difíceis, em que um homem que
trabalhou tanto, dedicou a vida ao país, esteja constrangido dentro de uma
cela”. Sobre a trajetória de
Lula avaliou que, “ele foi um presidente que fez coisas boas para muita gente,
embora também tenha despertado muito ódio e talvez falhado em alguma questão da
política, por que ninguém é perfeito”.
Apostando em apoio dos
eleitores do ex-presidente caso realmente fique impedido das disputas eleitorais, devido a processos
judiciais e a Lei da Ficha Limpa, o candidato do PDT, que foi ministro de Lula
e seu aliado político, afirma que o petista fora da disputa aumenta e sua
“responsabilidade cresce muito pesadamente, e isso eu estou sentindo nos meus
ombros”, afirma.
Pesquisa Datafolha,
divulgada no último domingo, aponta Ciro em terceiro lugar, com 9%, em todos os
cenários sem o ex-presidente Lula, no primeiro turno. Já no segundo turno, as duas
simulações feitas com seu nome, caso
consiga superar a primeira etapa eleitoral, resultaram
em empate técnico, concorrendo com Jair Bolsonaro (PSC), ambos chegam com 35% dos votos, e, caso seu adversário seja Geraldo
Alckmin (PMDB), os dois obtém 32%.
O candidato se diz
reticente em relação a pesquisas tão antecipadas, “com a experiência que tenho,
sei que pesquisa é o retrato do momento. A vida não é um retrato, é um filme,
há sessenta dias tínhamos o Luciano Huck, noventa dias atrás tinha o João
Dória, agora na última pesquisa entrou o Joaquim Barbosa”, avalia.
Gomes acredita que a
população só vai parar para pensar em política mais
para frente. “A campanha ainda não começou, daqui a pouco vão começar a se
interessar, acompanhar os debates, comparar um e outro, ver quem é ficha
limpa”. Ciro Gomes tem esperanças de se eleger, “quero crer que à medida que me
conheçam melhor a chance de eu servir esse país como presidente aumente”, discursa.
O Focaia agradece a colaboração da
Professora da UFMT/CUA Queli Lisiane Castro Pereira.