Linguagem
Agência Focaia
Reportagem
Vasco Aguiar
Foto: Agência da Notícia
Vista aérea de Barra do Garças.
O estudo da linguagem barra-garcense foi tema de pesquisa
desenvolvida dentro da disciplina Estudos Linguísticos III, cursada por alunos do terceiro ano do curso de Letras
da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Araguaia. Sob a orientação do
professor Maxwell Gomes de
Miranda, foram aplicados pelos acadêmicos, questionários a moradores da cidade
de Barra do Garças, com a intenção de observar a variação linguística que
ocorre em diferentes bairros e a influência externa na maneira de falar dos
moradores.
De acordo com Maxwell, no
questionário aplicado foram definidos alguns critérios, tais como se eram
nascidos ou não em Barra do Garças, escolaridade, sexo, há quanto tempo moram na
cidade e de onde vieram. Ele explica que estas variáveis podem influenciar no
modo de falar do morador, e também esclarece que foi necessário estabelecer a
separação de faixas etárias, possibilitando o recorte da língua de um modo
diferente. Para Miranda, isso se explica por que os mais velhos não falam como
os mais jovens. Ele exemplifica que a geração de 20 a 40 anos se encontra em um
ambiente linguístico intermediário. “Já não falam nem como os mais velhos nem
como os mais jovens”, analisa.
O professor aponta que
historicamente, Barra do Garças foi fundada em função da exploração de ouro na
região, nos garimpos. Segundo ele, a maioria das pessoas que vieram para esta
localidade é do estado de Goiás, com peculiaridades no falar. No entanto, nos
últimos anos, conforme Miranda, a cidade tem recebido pessoas de diversas
regiões do país, incluindo a inserção de estudantes da universidade federal (UFMT Araguaia). Para ele, essa
migração acabou acelerando a variação linguística na região.
A estudante Mirella da Silva Couto, matriculada na disciplina,
explica como foram aplicados os questionários. “Para essa pesquisa a turma foi
dividida em duplas ou trios e cada equipe deveria escolher um bairro da cidade
e entrevistar cinco falantes barra-garcenses (natural) ou que tenham vindo para
cá aos dois anos de idade, de ambos os sexos”. A divisão etária, de acordo com
a acadêmica, foi a seguinte: (a) 6 a 15 anos; (b) de 15 a 25 anos; (c) 25 a 35
anos; (d) de 35 a 45 anos, e (e) de 45 a 70 anos.
Para Couto, as variações linguísticas demonstram o caráter
dinâmico da linguagem e estão vinculados pelas relações sociais, geográficas e
culturais. “A influência dialetal de uma região para a outra faz parte do
processo linguístico. Por isso creio que os vários sotaques aqui presentes têm
somado para a mudança da linguagem barra-garcense”.
Alguns resultados
A estudante Mirella explica que puderam constatar diferenças do
falar entre os bairros da cidade, gerando variação linguística. “Existe aqui
uma mistura de sotaques. De bairro para bairro percebemos mudanças na maneira
de falar dos entrevistados”. Ela exemplifica que em alguns bairros os falantes
puxam muito o “r” em suas pronúncias, já falantes de outros bairros não
demonstram essa marca na consoante.
O orientador Maxwell Miranda analisa que de um modo geral,
através dos dados coletados, nota-se que nos falantes que vieram de outras
cidades existe uma tendência de manter a variedade da região de origem, ao
invés de se adaptar à linguagem de Barra. “Em alguns dados vimos a redução de
ditongos. Ao invés de falar “tesoura”, falam “tesora”, essa é uma característica
do português de um modo geral”, aponta.
O professor avalia que alguns traços dos primeiros falantes da
cidade estão cada vez mais se neutralizando, e se aproximam do português
padrão. “Temos a plena convicção que está havendo uma mudança em andamento,
sobre os rumos que ela vai alcançar ao longo deste percurso não podemos afirmar
categoricamente”, conclui Miranda.