Ciclo vicioso, distribuição de renda e escolaridade

Educação e economia

Érica Fraga

A necessidade de trabalhar adiou os planos de formatura de Lucas Tavares, 21, que cursa economia na UFRJ. Por causa da recessão, a empresa onde ele estagiava fechou, e a renda de seu pai —que trabalha como vendedor autônomo e o ajudava— caiu.

"Tenho gastos para estudar e uma filha pequena. Não teve jeito. Precisei arrumar um emprego."

Com a mudança, ele trocou o curso diurno pelo noturno, passou a trabalhar entre oito e nove horas por dia como vendedor de seguros e suas notas na graduação caíram um pouco. O término da faculdade, que ocorreria neste ano, ficou para o fim de 2017.

"Antes eu planejava meu estágio em função da faculdade. Agora, planejo a faculdade em função do trabalho", diz.

Os rumos educacionais de jovens como Tavares são influenciados pela renda de suas famílias. Por isso, a recessão atual é ameaça à continuação do avanço da escolaridade no país.

Um sinal desse risco é a recente reversão na tendência de queda do número de jovens que trabalham ou buscam emprego, a taxa de participação.

Depois de cair nos últimos anos, esse indicador para os jovens de 14 a 17 anos subiu de 20% no terceiro trimestre de 2014 para 21% entre janeiro e março deste ano. Na faixa etária de 18 a 24 anos, aumentou de 67,4% para 68,5% entre o último trimestre de 2014 e o primeiro de 2016.

"O risco é que a expectativa de maior escolaridade desses jovens, que se concentram nas camadas mais pobres, seja frustrada. Isto seria um sério problema para sua inserção no mercado de trabalho", diz o economista Naércio Menezes Filho, do Insper.

Em estudo com Pedro Cabanas e Bruno Komatsu, Menezes Filho concluiu que um aumento de R$ 200 para R$ 500 na renda dos adultos de um domicílio eleva em quase três pontos percentuais a chance de que os filhos se dediquem exclusivamente à escola.

Outro estudo de 2007 dos economistas Suzanne Duryea (Banco Interamericano de Desenvolvimento), David Lam (Universidade de Michigan) e Deborah Levison (Universidade de Minesota) concluiu que o desemprego repentino do pai elevava de 11,7% para 18,5% o percentual de jovens de 15 e 16 anos que começavam a trabalhar em um período de quatro meses. Já a fatia dos que eram reprovados na escola saltava de 30,5% para 37,3%.