brasileiros-estadunidenses

Por Antonio Silva

Os jornais de um modo geral refletem o pensamento de um país, e de maneira mais direta o discurso e projetos da elite nacional – aqui quem conhece bem estas análises é o ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso, amigo de grande parte dos intelectuais conservadores do Brasil. Pode parecer estranho, mas o Jornalismo em qualquer lugar tem como premissa organizar informações de acordo com a cultura local e regional, considerando os diversos grupos com poder de influência sobre as comunidades.

Neste sentido, além de várias outras perspectivas, sobressai à visão de mundo dos agentes econômicos e políticos. Neste olhar, o Brasil se desponta neste século, com dois graves problemas. A nossa burguesia industrial entra na contramão do tempo; e perde o bonde para as travessias regionais. Na comparação com o futebol, não mostra como um bom técnico, pois usa a mesma tática para todas as jogadas, mesmo se avaliado o esquema de novos adversários.

Isso tudo para dizer que a decadente dependência do país em relação aos Estados Unidos, como modelo para o futuro e riqueza econômica, vai se tornando caquético, para não dizer miserável, esgotado. Embora, os mesmos jornais não revelem o tamanho da crise econômica, vivida pelo “amigo” do norte, não é difícil compreender as dificuldades que o xerife global encontra para sacar rapidamente suas armas, e abater os adversários fantasmas. O temor só aumenta, assim como as palavras em detrimento das ações.

Nossa elite que vive nos Estados Unidos e Europa não compreende – ou estrategicamente fecha os olhos – mas a economia na América Latina de diversos países se alinhando com organização regional, em especial com Ásia, além de outras nações sem liderança absoluta do xerife do norte. A Argentina, sempre massacrada pela elite brasileira, nos seus jornais demonstra força ao enfrentar a poder do “amigo” de Washington e se aproxima de Pequim. A contragosto do PIB nacional, o Brasil em tempos políticos, balança para outros rumos, a duras penas.

O México, o vizinho mais próximo do Tio Sam, emperrou na sua econômica, com fronteiras abertas para produtos e mercados, com os Estados Unidos. Os cartéis do tráfico continuam aterrorizando a política mexicana, com governos submetidos às forças do forte aliado. Paga um alto preço, submetendo à população a um destino de violência e pobreza, para além da conta e necessidade.

Cuba, Bolívia, Venezuela nos trancos e barrancos se mantêm em pé, mas Chile e Peru, vistos como bons parceiros dos “amigos” do norte, convivem com a sorte de país com perda cada vez maior de identidade, com portos, aeroportos e economia importada, sempre com valorização a lógica do resultado financeiro. A história e cultura vão ficando para trás, com um discurso de modernidade. Em especial o Chile vê bater à sua porta atos considerados terroristas, com bombas que explodem em metrôs.

Portanto, a leitura dos jornais se torna cada dia mais importante para a tomada de decisão de uma sociedade, que se revela refém dos desejos da (des)pretensiosa elite brasileira-estadunidense (por vezes europeia), cuja dependência coloca a todos no mesmo campo e com as mesmas armas, ou arma nenhuma, somente com a mão-de-obra barata e explorada.

Assim, caminha o Brasil do (para) futuro.

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Antonio Silva é Jornalista e professor UFMT - Campus do Araguaia