América Latina no Jornalismo brasileiro

Por Antonio Silva

OBSERVAR A IMPRENSA BRASILEIRA – A atuação do jornalismo brasileiro das grandes redes nacionais de comunicação nacional salta aos olhos, nos tempos atuais, se considerada a distância dos noticiários do Brasil sobre os demais países da América do Sul e central, de colonização e língua espanhola.

Uma realidade que torna a população brasileira, no país com liderança na região e quase um continente, com pouco conhecimento do que se passa com os seus vizinhos.

Paradoxalmente, numa época de organização de grupos econômicos e de amplo processo de globalização da comunicação midiática. Assim, por um lado os mercados e de outro a capacidade de percepção da sociedade brasileira sobre a realidade regional.

A geopolítica faz transparecer que há uma desconexão entre os países em termos culturais, política, costumes, etc., porém, a questão pode estar nas limitações da informação e conhecimento da realidade regional.

Se analisado mais atentamente, é forçoso notar que o nosso jornalismo está voltado com primazia para a América do Norte e Europa, com informações cotidianas destes lugares, em grande parte da mídia nacional – sem contar as angulações prioritariamente negativas das notícias.

Muitas vezes, acidentes corriqueiros nos Estados Unidos concorrem com notícias importantes em determinados estados fora do eixo Rio-São Paulo, acontecimentos latino-americanos importantes. Como ocorre em casos de acidentes em Nova York, Washington ou mesmo em Londres. Lugares em que a mídia brasileira mantém repórteres que observam o mundo, inclusive a América Latina, sacando fontes (vozes) com relações políticas definidas com lugar de fala, então, estabelecido.

Embora tenhamos alto índice de não-leitores de livros na região (e por certo jornais impressos), alguns países se destacam em diversas pesquisas feitas na América Latina no interesse pela leitura, à frente do Brasil, como é o caso Venezuela, Argentina, Peru.

Há algumas semanas, se observou a existência de importantes autores com produções importantes na região, com ampla divulgação sobre a morte de Gabriel García Marques, colombiano, reconhecido internacionalmente. Assim como peruano Marcos Vargas Llosa e o Eduardo Galeano, na percepção do gênero literário, entre tantos outros.

Enquanto isso, no Jornalismo os países latino-americanos são invadidos por meios de comunicação que transmitem em língua espanhola, cobrindo, portanto, do sul ao norte da América, com matriz nos grandes centros econômicos. O abismo no caso brasileiro poderia ser o idioma, porém um equívoco. Pode-se avaliar que há pouco interesse pela transposição das fronteiras regionais, através da comunicação que poderiam evidenciar culturas que se assemelham na forma de vida, geografia, costumes, desigualdade social e política.

Deste modo, a liderança do Brasil sobre a região fica na lógica da economia e seu tamanho, numa espécie de fluxo de dominação autoritária, sem trocas e debates pertinentes sobre os problemas, muitos deles comuns. O jornalismo tem um papel importante a desempenhar nesta missão de integração da América Latina, mas por século demonstra desconsiderar a aproximação, como sendo pouco produtivo ou mesmo primitivista – distante das grandezas sofisticada dos tempos tecnológicos e mercados avançados.

No final, tem-se a impressão que o melhor é se afirmar com a visão para os grandes centros econômicos, como exemplo de vida e de seleção de acontecimentos de interesse para o conhecimento social nacional e regional.

Nesta análise, esconde-se a primazia pelos exemplos de mercado solidificado pelos grandes conglomerados que aportam no Brasil, sem considerar a potencialidade econômica da região e sua força política para o desenvolvimento social numa aproximação entre os diversos países. Embora, iniciativas vêm sendo feitas também de maneira isolada no campo acadêmico e órgãos públicos vinculados a governos da região e instituições internacionais. O debate existe.

Não há dúvida quanto à influência política e econômica da América do Norte (EUA) sobre a América Latina, entretanto, a falta de informação dos acontecimentos destes países no Jornalismo brasileiro chama a atenção a cada dia mais, até mesmo pelo posicionamento político de parte de países da região, na tentativa de se estabelecerem na ordem mundial.

Por isso, permanentemente a discussão sobre a dependência latina americana e sua capacidade para o desenvolvimento com justiça social e distribuição de renda. A riqueza natural e produtiva das nações regionais para superar da crise em tempos de economia globalizada passa pela informação.

Uma questão que vai além da sublime diferença de idiomas, e se encerra no poder das vozes no jornalismo comercial com poder global.

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Antonio S. Silva é Jornalista e Professor de UFMT - Campus Araguaia.