JORNALISMO VISUAL A capa da revista ‘Camalote’

Por Lawrenberg Advíncula da Silva em 03/09/2013 na edição 762 do Observatório da Imprensa

Na linguagem gráfica do jornalismo, conteúdo e forma constituem uma combinação prosaica e necessária para uma relação efetiva com os mais diferentes leitores. Mais especificamente para o jornalismo de revista, não basta somente a disposição textual de reportagens dosadas de apetrechos literários e densidade de apuração, mas, de forma paliativa, o uso de imagens impactantes e ilustrativas. Feitos os primeiros aclaramentos, lanço uma breve análise sobre o projeto visual das capas da revista Camalote, publicação especializada no segmento de turismo no estado de Mato Grosso, que funciona desde o ano de 2007. A intenção é verificar a importância da aptidão visual ao jornalista e, mais consequentemente, de um conhecimento mais apurado acerca do jornalismo visual: área ainda pouca explorada tanto pelo mercado quanto, sobretudo, pelas faculdades de Comunicação Social.

Voltada para atender um segmento turístico de amplitude nacional e internacional, cujo custo é de 20 reais, não é de se surpreender que a capa da revista Camalote aproxime-se mais de um catálogo ou de uma publicação não-seriada para colecionador do que realmente a de um periódico de sazonalidade semanal. A capa de papel couchê com gramatura 300 g e hot stamping (verniz localizado), de altíssimo brilho e brancura, bem similar ao livro de mesa, acusam um acabamento que contraria as outras 30 publicações que se tem o registro no estado de Mato Grosso, entre elas, as tradicionais Óptima e RDM.

Temas ligados ao ecoturismo são trabalhados exaustivamente através de fotografias de fauna e flora do Pantanal mato-grossense, como se elas fossem as únicas idiossincrasias (simbologias) de um estado com tanta diversidade cultural e natural. A qualidade das fotografias é inegável, e evidentemente representa um dos maiores apelos da publicação. Contudo, na maioria das vezes, são meramente decorativas.

Uma breve análise das capas

Quase na forma de uma versão regionalizada da revista americana National Geographic, a Camalote utiliza capas-pôsteres, só que nem sempre devidamente amparada de critérios de noticiabilidade. Pelo contrário, o artístico sobressai enquanto recurso persuasivo de um forte marketing turístico. E por este viés, o referencial cede à plástica da fotografia, assim esvaziando de sentido o texto das manchetes, quanto vice-versamente.

Na edição 55 (agosto de 2013), por exemplo, a imagem em primeiro plano de cavalos pantaneiros correndo por várzeas comumente encontradas nas fazendas pantaneiras foi utilizada para ilustrar o homem pantaneiro, que muito discretamente é registrado na fotografia de capa. Por mais que, num deslizamento metonímico, o editor da capa tivesse o propósito de enaltecer a tropa de cavalos a fim de caracterizar a figura do homem pantaneiro, a fotografia ainda permite inúmeras brechas em sua interpretação. Entre elas, de se tratar de cavalos selvagens ou como insinuação e metáfora do estilo de vida nos rincões do Pantanal, da potência da tropa dos cavalos. E em todas essas possíveis interpretações o homem pantaneiro se posiciona na condição de coadjuvante em detrimento do protagonismo da tropa dos cavalos.
 

Já em outra edição mais antiga, a nº 39 (de 2011), a imagem com enquadramento panorâmico de uma paisagem do cerrado em seu fascinante entardecer, destacando o ninho de um jaburu (ave símbolo do Pantanal mato-grossense) em contraste com o pôr-do-sol ao fundo, busca fazer uma clara alusão ao título da manchete “A seca do Pantanal é o bicho”. Nesse caso, acontece o empobrecimento da imagem pelo uso de um título pejorativo, senão exageradamente intimista para estabelecer uma relação de austeridade e interesse com o público leitor.

Os casos expostos aqui nos habilitam de exemplos práticos e suficientemente capazes de gerar uma melhor reflexão do uso da linguagem gráfica-editorial, seja no impresso, nas peças eletrônicas ou nas digitais.
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Lawrenberg Advíncula da Silva é professor do curso de Jornalismo da Universidade do Estado de Mato Grosso – Unemat/Campus de Alto Araguaia.



Obs do blogueiro.: Lawrenberg foi aprovado para vaga de professor efetivo do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso – Campus Araguaia, em concurso público posteriormente anulado pela Universidade por recomendação do Ministério Público, com base em denúncia - até o momento não comprovada -  feita por alunos do curso de que houve favorecimento da banca ao candidato aprovado. Leia mais sobre o assunto.