por Antonio S. Silva
Pois, quando se fala em democracia deve-se pensar a quantidade de pessoas
que a defende, caso contrário são somente palavras. Então passamos a inocente
útil
A grande discussão sobre a vinda da cubana blogueira, Yoani Sánchez,
ao Brasil não é simples e tem uma relação política e ideológica muito forte.
Parece ser uma questão de liberdade, de democracia, direito de ir vir de
qualquer país livre. Mas no fundo, a América Latina passa por mudanças
substanciais na política, e qualquer símbolo que representa sua derrocada será
questionado ou glorificado. Trata-se, portanto, de uma disputa que transpõe o
visível.
O país cubano ao longo do século tornou-se uma nação que põe em xeque o
capitalismo mundial, como única forma de governo e sistema social. O socialismo
não foi inteiramente dizimado, deixando fragmentos em alguns países pelo mundo,
sempre questionados, como é caso da ilha de Fidel, da China, Coréia do Norte e
muitos outros.
A região da América Latina, diante de sua exploração mercantilista que
atravessou séculos de exploração, tem seus motivos para acreditar em outra
forma de administração pública, que não o deus mercado.
Sánches sabedora desta realidade ou não, serve aos propósitos daqueles
que querem por em dúvida este sistema não-capitalista de ser. Como dizem os
estudantes da Bahia,
possivelmente há apoio financeiro das nações ricas em torno de sua viagem
pelo território, onde vigora o capital. O objetivo é deixar claro o quanto o
socialismo é um horror, perigoso, infantil e desonesto.
Se por um lado se quer desqualificar um regime, quer-se vangloriar o
outro como o seu contrário. Infelizmente cada qual tem os seus defeitos, os
quais a sociedade, no seu conjunto democraticamente, vai apontando os seus
problemas. Se há o comunismo de castração impera de outro lado o totalitarismo
capitalista.
A rigor, as pessoas das nações de economia forte sofrem com a exclusão
absurda e desumana para o prazer de poucos. Veja o caso brasileiro, da situação
de países Europeus. Os milionários donos de jornais brasileiros tem o seu lado
neste jogo infame.
Desta forma, a blogueira serve de instrumento para apregoar um modo de
vida, que certamente é defendido por alguns líderes econômicos. Pois, quando se
fala em democracia deve-se pensar a quantidade de pessoas que a defende, caso
contrário são somente palavras. Então passamos a inocente útil.
Antonio Silva - Jornalista, mestre, doutorando e professor da UFMT.
Foto: Reuters
Antonio Silva - Jornalista, mestre, doutorando e professor da UFMT.
Foto: Reuters