"Mico" na Sapucaí: Transmissão da Globo relaciona Cuiabá a "selva" e "caju"


Quem assistiu à apresentação da Mangueira teve a impressão de que a Capital de MT fica em meio a uma selva


G1

A Mangueira se destacou também pelas fantasias de luxo, mas faltou aspectos positivos da Capital de MT
DA REDAÇÃO
Se a intenção da Estação Primeira de Mangueira era homenagear Cuiabá e “vender”, por meio de seu desfile a Marquês de Sapucaí, seus potenciais turístico, econômico e cultural, o tiro pode ter saído pela culatra.

Quem assistiu a apresentação da escola de samba pela TV Globo, teve a impressão de que a Capital mato-grossense fica em meio a uma selva, repleta de animais “pantaneiros”, como jacarés e cobras gigantes.

Mais: o que eram para serem pontos altos – e que justificassem o investimento de R$ 3,6 milhões feito pela Prefeitura de Cuiabá – acabaram se transformando em uma salada de frases feitas, quase banais, superficialismo e equívocos históricos.

"Apesar de toda a bizarrice, sem dúvida o pagamento de R$ 3,6 milhões para bancar a homenagem, feito com o dinheiro do povo, serviu para alguma coisa"

A cultura cuiabana também foi “judiada” durante a transmissão global. Resumiu-se a uma demonstração pobre e sem sentido, que distorceu elementos básicos e jogou no chão aquilo que deveria ser um trunfo.

Logo no início da transmis são, os primeiros tropeços. Um dos repórteres da Globo perguntou a uma integrante da ala dos Bandeirantes se ela conhecia Cuiabá. A mulher disse que não. O repórter insistiu: “Como a senhora imagina Cuiabá?”.

- Ah, eu imagino um lugar assim... Uma selva!

Na sequência, outro repórter perguntou a outra passista, da ala do Ouro, quais eram as riquezas de Cuiabá.

A resposta foi outra “tragédia”:

- As riquezas são a natureza, o ouro e o caju!

Os locutores da TV Globo, Glenda Kozlowski e Luis Roberto, também colaboraram, em muito, para ridicularizar Cuiabá. Nitidamente, ambos não se deram ao trabalho de pesquisar, o mínimo, sobre a cidade homenageada, sua cultura e tradições.

Assim que a câmera deu um close a uma das alas, em que peixinhos fofinhos faziam parte das fantasias, Glenda Coloski soltou:

- Olha o pacu, gente!!! Cuidado com o pacu!!! Quem come a cabeça do pacu se casa e não sai de Cuiabá!

Em outro ponto, a mesma Glenda emendou a “pérola”, dizendo que as índias ofereciam o peixe para seduzir os bandeirantes. Pacu como “arma” de sedução? Socorro!!!

A mesma locutora disse, também, de modo confuso, que Cuiabá "é a cidade que eles (os bandeirantes) pensavam ter encontrado, o Eldorado".

"Noiva fantasma"


Outro ponto digno de registro foi quando a TV deu destaque para uma ala, com “noivas fantasmas”, em que caveiras de crânios humanos, imensas, ficavam suspensas e adornavam as fantasias.

De novo, a locutora da Globo foi cruel.

- Noivas fantasmas! Se você encontrar uma mulher vestida de branco nas ruas de Cuiabá, muito cuidado.

A exemplo desse “desfile” de falta de conhecimento histórico e cultural, a Capital mato-grossense também foi brindada, cantada e homenageada com outras referências rasas e desconexas.

O locutor Luiz Roberto, por exemplo, disse que a “boneca de pano é tradição do artesanato cuiabano”, assim como a panela de barro.

A coisa poderia ter sido pior, caso a escola de samba não tivessa atrasado seu desfile - fato que deixou de fora da transmissão televisiva outras tantas alas e carros alegóricos.

Apesar de toda a bizarrice, sem dúvida o pagamento de R$ 3,6 milhões para bancar a homenagem, feito com o dinheiro do povo, serviu para alguma coisa: para animar a trupe do ex-prefeito Chico Galindo que, muito provavelmente, se esbaldou com as comidas, bebidas e mordomias do camarote reservado às autoridades ditas cuiabanas.

Sem dúvida, um Carnaval inesquecível...