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Agência Focaia
Aos 22 anos, Helen publicou sua autobiografia A história da minha vida, foi escritora, ativista, lutou pelos direitos das mulheres e de pessoas deficientes. O filme “O milagre de Anne Sullivan", que estreou em 1962 e possui um remake feito em 2000 pela Disney, conta parte de sua incrível história.
Agência Focaia
Redação
Nathália Cavalcante
Colaboração
Você sabe se comunicar na Língua Brasileira de Sinais?
Sabe a diferença de um surdo para um mudo? Então leia a matéria e descubra
sobre a comunidade surda.
No Brasil, a educação dos surdos teve início durante o
Segundo Império com a chegada do professor francês Ernest Huet (surdo
congênito). Com o apoio do Imperador Dom Pedro II ele fundou, em 26 de setembro
de 1857, o atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES). Segundo
dados de uma pesquisa realizada em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), cerca de 9,7 milhões de pessoas declararam ter
deficiência auditiva.
Pessoas que sofrem com a deficiência auditiva costumam
ficar com a fala prejudicada ou não desenvolvida. Para aprenderem a se
comunicar é ensinado a elas a Língua Brasileira de Sinais, mais conhecida como
Libras. Porém, os ouvintes (pessoas não surdas) costumam dizer que todo
surdo é mudo, mas isso não é verdade.
Uma pessoa surda não tem problemas nas cordas
vocais e, sim, na audição, ou seja, ela pode falar. Mas como? Em alguns casos,
quando se descobre a surdez, a pessoa faz um tratamento com fonoaudiólogo para
aprender a utilizar as cordas vocais, com isso elas conseguem pronunciar
palavras e emitir sons. Porém, em outros casos elas não falam porque não
receberam um acompanhamento especial, no entanto, utilizam a leitura labial, as
mãos, expressão facial e a Libras para se comunicarem.
A estudante de Jornalismo da UFMT Araguaia, Emanuela
Mesquista, conta sobre as dificuldades enfrentadas pelo irmão, que nasceu sem a
audição e só recebeu assistência quando, aos seis anos de idade, foi levado
para um instituto que auxilia pessoas com deficiência auditiva.
“Minha mãe teve rubéola durante a gestação e quando ele
nasceu nos comunicávamos do jeito que dava, porque não sabíamos a Língua de
Sinais, inventávamos sinais e ele desde criança fazia muita leitura labial. Hoje,
na minha família somente ele e eu sabemos Libras”.
Em abril de 2002, a Língua Brasileira de Sinais passou
a ser considerada, por lei, a segunda língua oficial do país. Mas ainda há uma
desvalorização por parte da sociedade, e, por isso, aprender Libras ajuda
a incluir pessoas surdas no meio social.
Para a Intérprete e Tradutora em Libras da UFMT
Araguaia, Neila Cristina, as pessoas não se esforçam o suficiente.
“Infelizmente, falta interesse das pessoas em aprender Libras, muitos elogiam, porém,
tem dificuldades em se comunicar com os surdos”.
Por toda essa falta de informação e desinteresse do
ouvinte em aprender Libras, as pessoas surdas sofrem com falta do método de
inclusão nas escolas e universidades. “Meu irmão estudou em uma escola normal e
chegou até a oitava série sem o auxílio do intérprete, porém ele não conseguiu
acompanhar mais e reprovou. Agora ele tem 24 anos, voltou a estudar e recebe
ajuda de um intérprete na sala de aula”, conta a estudante Emanuela.
Silvia Calixto, única professora surda na UFMT
Araguaia, afirma que a universidade precisa reconhecer mais a importância da
Língua Brasileira de Sinais. “Falta muita comunicação, gostaria que (no Campus
Araguaia) tivesse o curso Letras/Libras, porque ajudaria muito na aquisição de mais
profissionais na área, e abriria mais o “leque” para as pessoas surdas
estudarem aqui”.
A falta de inclusão e o preconceito que essas pessoas
sofrem ainda são grandes, a professora diz que os alunos ouvintes precisam
aprender mais sobre a comunidade surda. “É importante que aprendam sobre o
assunto, pois algumas vezes o preconceito e a falta de estímulo vêm da própria
família dos surdos, e os alunos ouvintes podem ajudar informando e
convidando-os para ingressarem nas universidades.”
Mas não é só nas instituições de ensino que o
deficiente auditivo enfrenta dificuldades. No meio familiar, nos hospitais,
farmácias e delegacias são alguns exemplos de locais que, não havendo pessoas
ou ferramentas capacitadas para atender o surdo, acabam complicando uma tarefa
que é comum para a maioria da população ouvinte.
“Meu irmão enfrenta obstáculos em qualquer órgão
público, porque não tem ninguém capacitado para auxilia-lo, exemplo do INSS
onde ele não consegue resolver os assuntos quando vai lá. Se ele quiser ir a
uma farmácia precisa anotar ou mostrar a receita médica, senão não consegue
comprar o remédio”, relata a estudante de jornalismo.
Potencialidades
A Libras está em constante mudança e existe várias
formas de aprender sobre ela. Através do Youtube, segundo maior mecanismo de
busca da internet atrás apenas do Google, é possível obter vários conteúdos e
conhecer youtubers surdos que explicam e tiram dúvidas sobre a comunidade
surda. Exemplo é o canal do Léo Viturinno e o Visurdo (dos irmãos
Andrei e Tainá Borges).
Lakshmi Lobato, mais conhecida como Lak, é surda
oralizada e dona do blog: “Desculpe, não ouvi!”. Em uma publicação, trouxe
alguns termos que a sociedade usa, às vezes de forma pejorativa, para se
referir a pessoas com deficiência, entre elas a auditiva.
Um dos exemplos que impressiona é o de Helen Keller
(1880-1968), que antes de completar dois anos de idade ficou cega e surda, mas
com o auxílio de sua professora, Anne Sullivan (1866-1936) que era deficiente
visual, conseguiu vencer as dificuldades de se comunicar.
Aos 22 anos, Helen publicou sua autobiografia A história da minha vida, foi escritora, ativista, lutou pelos direitos das mulheres e de pessoas deficientes. O filme “O milagre de Anne Sullivan", que estreou em 1962 e possui um remake feito em 2000 pela Disney, conta parte de sua incrível história.
Helen
Keller e Anne Sullivan em 1918
A capacidade intelectual de uma pessoa com deficiência
auditiva é a mesma de uma pessoa ouvinte, o que diferencia são as oportunidades
que recebem. “Acreditem em seus sonhos e alçassem todos os seus objetivos, pois
vocês são capazes do que quiserem”, completa a intérprete da UFMT, Neila
Cristina.