Entender a realidade dos surdos é ter uma sociedade mais inclusiva e justa

Acessibilidade


Agência Focaia
Redação
Nathália Cavalcante
Colaboração

     (Fonte: Biosom)


Você sabe se comunicar na Língua Brasileira de Sinais? Sabe a diferença de um surdo para um mudo? Então leia a matéria e descubra sobre a comunidade surda.
 

No Brasil, a educação dos surdos teve início durante o Segundo Império com a chegada do professor francês Ernest Huet (surdo congênito). Com o apoio do Imperador Dom Pedro II ele fundou, em 26 de setembro de 1857, o atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES). Segundo dados de uma pesquisa realizada em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 9,7 milhões de pessoas declararam ter deficiência auditiva.

Pessoas que sofrem com a deficiência auditiva costumam ficar com a fala prejudicada ou não desenvolvida. Para aprenderem a se comunicar é ensinado a elas a Língua Brasileira de Sinais, mais conhecida como Libras. Porém, os ouvintes (pessoas não surdas) costumam dizer que todo surdo é mudo, mas isso não é verdade. 

Uma pessoa surda não tem problemas nas cordas vocais e, sim, na audição, ou seja, ela pode falar. Mas como? Em alguns casos, quando se descobre a surdez, a pessoa faz um tratamento com fonoaudiólogo para aprender a utilizar as cordas vocais, com isso elas conseguem pronunciar palavras e emitir sons. Porém, em outros casos elas não falam porque não receberam um acompanhamento especial, no entanto, utilizam a leitura labial, as mãos, expressão facial e a Libras para se comunicarem.

A estudante de Jornalismo da UFMT Araguaia, Emanuela Mesquista, conta sobre as dificuldades enfrentadas pelo irmão, que nasceu sem a audição e só recebeu assistência quando, aos seis anos de idade, foi levado para um instituto que auxilia pessoas com deficiência auditiva. 

“Minha mãe teve rubéola durante a gestação e quando ele nasceu nos comunicávamos do jeito que dava, porque não sabíamos a Língua de Sinais, inventávamos sinais e ele desde criança fazia muita leitura labial. Hoje, na minha família somente ele e eu sabemos Libras”.

Em abril de 2002, a Língua Brasileira de Sinais passou a ser considerada, por lei, a segunda língua oficial do país. Mas ainda há uma desvalorização por parte da sociedade, e, por isso, aprender Libras ajuda a incluir pessoas surdas no meio social.

Para a Intérprete e Tradutora em Libras da UFMT Araguaia, Neila Cristina, as pessoas não se esforçam o suficiente. “Infelizmente, falta interesse das pessoas em aprender Libras, muitos elogiam, porém, tem dificuldades em se comunicar com os surdos”.

Por toda essa falta de informação e desinteresse do ouvinte em aprender Libras, as pessoas surdas sofrem com falta do método de inclusão nas escolas e universidades. “Meu irmão estudou em uma escola normal e chegou até a oitava série sem o auxílio do intérprete, porém ele não conseguiu acompanhar mais e reprovou. Agora ele tem 24 anos, voltou a estudar e recebe ajuda de um intérprete na sala de aula”, conta a estudante Emanuela.

Silvia Calixto, única professora surda na UFMT Araguaia, afirma que a universidade precisa reconhecer mais a importância da Língua Brasileira de Sinais. “Falta muita comunicação, gostaria que (no Campus Araguaia) tivesse o curso Letras/Libras, porque ajudaria muito na aquisição de mais profissionais na área, e abriria mais o “leque” para as pessoas surdas estudarem aqui”.

A falta de inclusão e o preconceito que essas pessoas sofrem ainda são grandes, a professora diz que os alunos ouvintes precisam aprender mais sobre a comunidade surda. “É importante que aprendam sobre o assunto, pois algumas vezes o preconceito e a falta de estímulo vêm da própria família dos surdos, e os alunos ouvintes podem ajudar informando e convidando-os para ingressarem nas universidades.”

Mas não é só nas instituições de ensino que o deficiente auditivo enfrenta dificuldades. No meio familiar, nos hospitais, farmácias e delegacias são alguns exemplos de locais que, não havendo pessoas ou ferramentas capacitadas para atender o surdo, acabam complicando uma tarefa que é comum para a maioria da população ouvinte.

“Meu irmão enfrenta obstáculos em qualquer órgão público, porque não tem ninguém capacitado para auxilia-lo, exemplo do INSS onde ele não consegue resolver os assuntos quando vai lá. Se ele quiser ir a uma farmácia precisa anotar ou mostrar a receita médica, senão não consegue comprar o remédio”, relata a estudante de jornalismo.

Potencialidades

A Libras está em constante mudança e existe várias formas de aprender sobre ela. Através do Youtube, segundo maior mecanismo de busca da internet atrás apenas do Google, é possível obter vários conteúdos e conhecer youtubers surdos que explicam e tiram dúvidas sobre a comunidade surda. Exemplo é o canal do Léo Viturinno e o Visurdo (dos irmãos Andrei e Tainá Borges).

Lakshmi Lobato, mais conhecida como Lak, é surda oralizada e dona do blog: “Desculpe, não ouvi!”. Em uma publicação, trouxe alguns termos que a sociedade usa, às vezes de forma pejorativa, para se referir a pessoas com deficiência, entre elas a auditiva.

Um dos exemplos que impressiona é o de Helen Keller (1880-1968), que antes de completar dois anos de idade ficou cega e surda, mas com o auxílio de sua professora, Anne Sullivan (1866-1936) que era deficiente visual, conseguiu vencer as dificuldades de se comunicar. 

Aos 22 anos, Helen publicou sua autobiografia A história da minha vida, foi escritora, ativista, lutou pelos direitos das mulheres e de pessoas deficientes. O filme “O milagre de Anne Sullivan", que estreou em 1962 e possui um
remake feito em 2000 pela Disney, conta parte de sua incrível história.

 
                  
                                                         Helen Keller e Anne Sullivan em 1918 

A capacidade intelectual de uma pessoa com deficiência auditiva é a mesma de uma pessoa ouvinte, o que diferencia são as oportunidades que recebem. “Acreditem em seus sonhos e alçassem todos os seus objetivos, pois vocês são capazes do que quiserem”, completa a intérprete da UFMT, Neila Cristina.