by Paulo Victor Sousa
Em No Sense of Place, Joshua Meyrowitz mostra como os
meios eletrônicos trouxeram consigo dificuldades em relação às definições de
situação à maneira como foram pensadas por Erving Goffman: ao colapsar ou
extrapolar as barreiras físicas, um meio como a televisão, para citar um
exemplo mais contundente, criaria outros ambientes interacionais e
informacionais e redefiniria as situações presencialmente até então bem
compreendidas. A questão central é justamente a possibilidade de escape da
informação, a qual já não estaria mais presa às barreiras físicas que a cercam.
O livro, contudo, foi escrito na década de 1980 e não poderia prever
especificamente elementos como celulares e tablets, nem suas funcionalidades de
conexão. Ainda assim, vale a pena tê-lo como base teórica importante a fim de
compreender as iniciativas atuais que “desterritorializam” ou criam
redefinições contextuais. Talvez seja esse o caso de aplicativos baseados em
localização, cujas interações, funções e potencialidades se voltam para uma
presença física telematicamente mediada.
De algum modo próximo a Grindr, Tinder ou Foursquare, o
recém lançado Ding
Dong é um aplicativo que permite que seus usuários estabeleçam laços
conversacionais privativamente tendo por base suas localizações momentâneas. Em
outras palavras, ao invés de funcionar como um messenger em geral,
Ding Dong permite apenas a interação entre aqueles que se situam fisicamente
próximos, pondo a localização num eixo de importância que se encontrava
supostamente perdido.
O funcionamento do app é baseado primordialmente em fotos:
tira-se uma foto de uma situação qualquer e escolhem-se contatos para os quais
se possam enviá-las (até 5, no m áximo). Osfeedbacks a esse movimento
podem vir por meio de emoticons (algo próximo ao Like do Facebook) ou de novas
fotos. A interação decorrente daí é então posta em visualização num mapa sob a
forma de ligações, o que evidenciar a proximidade física entre os amigos. Para
Onno Faber, um dos criadores do Ding Dong, “a coisa mais importante é a conexão
que é feita quando alguém responde a uma mensagem”, diz no site TechCrunch.
Ainda assim, vale frisar, o Ding Dong difere de Grindr e
Tinder por não estar pautado necessariamente em encontros presenciais – o que é
exatamente a proposta desses dois aplicativos. A localização aparece aí como um
elemento mediador crucial, mas colocar os usuários frente a frente não parece
ser exatamente a meta do aplicativo. E ainda foge da proposta do Foursquare por
não se basear estritamente na dimensão pública de informações gerais, no
processo de gamification ou ainda na busca por informações sobre
lugares específicos. Mais do que buscar pessoas para encontros ou lugares para
conhecer, o Ding Dong é muito mais sobre a partilha de experiências – algo
próximo, talvez, ao que faz o Instagram. Curiosamente, o site The Pop-Up City eleva a proposta do aplicativo para
outro patamar para além da interação, pensando na utilidade por parte de
coletivos específicos, como skatistas ou pescadores contando uns aos outros
sobre os melhores lugares voltados para suas atividades. Diante da novidade,
resta ver o que teremos de apropriação adiante.