Concessionário da única lanchonete da UFMT/CUA, alega prejuízos com a concorrência dos informais e decide entregar o ponto
Agência Focaia
Reportagem
Jozean Benício de
Almeida
Foto: Jozean Benício de Almeida
Nas dependências da Universidade
Federal de Mato Grosso, Campus Araguaia (UFMT/CUA), em Barra do Garças (MT),
funciona apenas uma lanchonete, e muitos alunos, com certa frequência, reclamam
dos preços praticados. Como a reportagem acompanhou, o movimento no lugar é
menor do que se espera em um único estabelecimento, em um campus universitário
com fluxo de cerca de 3 mil pessoas.
Aqueles
que mantêm certa frequência no consumo dos seus produtos faz suas
críticas aos serviços oferecidos. Como é o caso da estudante do curso de
Geografia, Elen Geliel, a qual diz gastar em média R$ 8 reais com lanches
diariamente. Como relata, os produtos são de péssima qualidade. “Um dia peguei
um salgado azedo lá, devolvi e imediatamente me deram outro que também não
estava muito bom, parecia amanhecido.”
Krisllainy Beatriz, que faz o
mesmo curso que Elen, diz gastar em torno de R$ 5 reais por dia na compra
lanches e outros produtos. Diferentemente da colega de Geografia, “a cantina é
relativamente boa, poderia melhorar o atendimento e ter preços mais acessíveis
para os estudantes”, pontua.
Beatriz acrescenta que existem
dois lados que deveriam ser analisados pacificamente na venda de lanches
dentro do Campus. O primeiro é a necessidade, porque vários alunos não possuem
renda e são de cidades ou estados distantes, não possuem auxílios da
Universidade e não tem uma família com condições de ajudar. Depois, a
observância da Lei. Avalia que a venda de produtos realizada por
estudantes como algo negativo, com a licitação somente os proprietários da
cantina recebem a permissão para a comercialização de lanches no campus
universitário.
Nathália Ramalho, do curso de
direito, diz que no começo, os preços eram um pouco desproporcionais aos
serviços. Os salgados nem sempre estavam bons, entre outros problemas. Com o
tempo foi melhorando bastante a qualidade. Para ela, os preços continuam não
acessíveis, porém a graduanda entende também o lado do empresário, com direito
à concessão do espaço, com um aluguel caro que são obrigados a pagar para continuar.
Contudo, a estudante aprova a
concorrência de vendedores informais dentro da universidade, que geralmente é
feito pelos próprios universitários na busca de uma renda extra. “O campus é
muito grande, nem todos os alunos vão até o local na hora do intervalo, além
disso, há muitos alunos que precisam de algum bico para ajudar a família, ou
até mesmo se manter na cidade. Vender alimentos na própria Universidade é a
opção mais viável para eles”, defende.
Kédina Rodrigues, também
estudante de Geografia, diz estar sempre à procura de economizar, procurando
jantar somente no Restaurante Universitário, e quando precisa lanchar, dá
preferência aos estudantes que vendem com um preço mais em conta.
Um estudante que não quis se
identificar na reportagem, é um dos vendedores informais do Campus Universitário
do Araguaia, em Barra do Garças. Ele trabalha há seis meses oferecendo lanches
para seus colegas de classe e para os demais estudantes do bloco que estuda.
Comercializa lanches rápidos, como pães, salgados, bolos e tortas. Afirma que
começou após tentar várias vezes adquirir a bolsa universitária e não obter
sucesso. A dificuldade de tirar as xerox solicitadas pelo corpo docente foi um
impulso para começar o pequeno empreendimento.
“Eu tenho que vender porque o dinheiro ajuda não somente a tirar as xerox, como a pagar as contas. Moro com minha mãe, mas ela é trabalhadora autônoma, não tem salário
fixo, ou seja, ela só tem renda quando trabalha. O mês que ela tem pouco
trabalho ela não tem grana. Precisamos de ajuda e não somos bolsistas. A
quantidade de clientes que compram meus lanches é boa e ajuda
muito”, relata.
Outro vendedor informal do campus
que também não quis se identificar é estudante da instituição e está há dois anos vendendo
trufas. “Foi uma atividade que eu me identifiquei, além de ser um dinheiro a
mais. Chego de manhã e fico até à tarde, comercializando minhas trufas e
brigadeiros. Quase 100% dos meus clientes são alunos”, conta. De acordo com
ele, por dia, ele atende em torno de 100 colegas.
Concessão
Geraldo Rodrigues do Nascimento,
venceu licitação para exploração do ponto em 2016, com pagamento de aluguel em
torno de R$ 2.500,00, incluindo água e energia. Depois de algum tempo, alegando
usar apenas o espaço da cozinha, conseguiu baixar o pagamento para R$ 452,00.
Quando questionado sobre a
concorrência com os vendedores informais, afirma que “é fácil [para os] alunos
venderem mais barato que eu, eles não pagam aluguel”, defende. Segundo ele, já
fez acordo com uma estudante que vendia doces na Universidade. Passou a
adquirir os seus produtos para serem comercializados na cantina.
Como afirma tentou fazer esse
mesmo processo com os demais, porém sem sucesso, dizendo que esse é um assunto
delicado. Segundo
Nascimento, alguns estudantes já até denunciaram a cantina para a Vigilância
Sanitária de Barra do Garças, que, segundo ele, resultou na aplicação de uma
multa avaliada em R$ 4.650,00.
Em nota, a Vigilância Sanitária da
cidade diz que o proprietário do estabelecimento não realizou interposições de
recursos, no Processo Administrativo Sanitário n° 03/VISA/2018. Assim a
Coordenadoria de Vigilância Sanitária Municipal, decidiu conforme o artigo 8° e
10° da Lei Federal 6.437/1977, combinado com o artigo 199 inciso I e artigo 201
inciso II da Lei complementar 077/2003, bem como artigo 1° da lei complementar
092/2005, pela aplicação de multa, no valor de R$ 519,76.
Responsável pelo processo de
licitação da UFMT Araguaia e fiscalizar dos contratos, Rogério
Marcondes, afirma que o Campus não interfere em assuntos referentes a
Vigilância Sanitária, e desconhece as multas aplicadas à Cantina Araguaia.
Segundo ele a fiscalização sanitária tem acesso para entrar e sair quando
precisar.
Marcondes diz que a universidade
só tem conhecimento da penalidade assinada por Bruno Cesar Souza Moraes,
Pró-Reitor da Pró-reitoria Administrativa (PROAD/UFMT), com fundamento no
artigo 6° do decreto número 8.539, de 8 de outubro de 2015, aplicada no dia 18
de fevereiro de 2018.
A multa foi de R$ 191,24, refere-se a infrações
detectadas pelos fiscais, dentre elas ocorrências contratuais de
falha de organização e acondicionamento dos produtos, atraso no pagamento do aluguel, entre outras.
Nas dependências da Universidade
Federal de Mato Grosso, Campus Araguaia (UFMT/CUA), em Barra do Garças (MT),
funciona apenas uma lanchonete, e muitos alunos, com certa frequência, reclamam
dos preços praticados. Como a reportagem acompanhou, o movimento no lugar é
menor do que se espera em um único estabelecimento, em um campus universitário
com fluxo de cerca de 3 mil pessoas.
Aqueles
que mantêm certa frequência no consumo dos seus produtos faz suas
críticas aos serviços oferecidos. Como é o caso da estudante do curso de
Geografia, Elen Geliel, a qual diz gastar em média R$ 8 reais com lanches
diariamente. Como relata, os produtos são de péssima qualidade. “Um dia peguei
um salgado azedo lá, devolvi e imediatamente me deram outro que também não
estava muito bom, parecia amanhecido.”
Krisllainy Beatriz, que faz o
mesmo curso que Elen, diz gastar em torno de R$ 5 reais por dia na compra
lanches e outros produtos. Diferentemente da colega de Geografia, “a cantina é
relativamente boa, poderia melhorar o atendimento e ter preços mais acessíveis
para os estudantes”, pontua.
Beatriz acrescenta que existem
dois lados que deveriam ser analisados pacificamente na venda de lanches
dentro do Campus. O primeiro é a necessidade, porque vários alunos não possuem
renda e são de cidades ou estados distantes, não possuem auxílios da
Universidade e não tem uma família com condições de ajudar. Depois, a
observância da Lei. Avalia que a venda de produtos realizada por
estudantes como algo negativo, com a licitação somente os proprietários da
cantina recebem a permissão para a comercialização de lanches no campus
universitário.
Nathália Ramalho, do curso de
direito, diz que no começo, os preços eram um pouco desproporcionais aos
serviços. Os salgados nem sempre estavam bons, entre outros problemas. Com o
tempo foi melhorando bastante a qualidade. Para ela, os preços continuam não
acessíveis, porém a graduanda entende também o lado do empresário, com direito
à concessão do espaço, com um aluguel caro que são obrigados a pagar para continuar.
Contudo, a estudante aprova a
concorrência de vendedores informais dentro da universidade, que geralmente é
feito pelos próprios universitários na busca de uma renda extra. “O campus é
muito grande, nem todos os alunos vão até o local na hora do intervalo, além
disso, há muitos alunos que precisam de algum bico para ajudar a família, ou
até mesmo se manter na cidade. Vender alimentos na própria Universidade é a
opção mais viável para eles”, defende.
Kédina Rodrigues, também
estudante de Geografia, diz estar sempre à procura de economizar, procurando
jantar somente no Restaurante Universitário, e quando precisa lanchar, dá
preferência aos estudantes que vendem com um preço mais em conta.
Um estudante que não quis se
identificar na reportagem, é um dos vendedores informais do Campus Universitário
do Araguaia, em Barra do Garças. Ele trabalha há seis meses oferecendo lanches
para seus colegas de classe e para os demais estudantes do bloco que estuda.
Comercializa lanches rápidos, como pães, salgados, bolos e tortas. Afirma que
começou após tentar várias vezes adquirir a bolsa universitária e não obter
sucesso. A dificuldade de tirar as xerox solicitadas pelo corpo docente foi um
impulso para começar o pequeno empreendimento.
“Eu tenho que vender porque o dinheiro ajuda não somente a tirar as xerox, como a pagar as contas. Moro com minha mãe, mas ela é trabalhadora autônoma, não tem salário
fixo, ou seja, ela só tem renda quando trabalha. O mês que ela tem pouco
trabalho ela não tem grana. Precisamos de ajuda e não somos bolsistas. A
quantidade de clientes que compram meus lanches é boa e ajuda
muito”, relata.
Outro vendedor informal do campus
que também não quis se identificar é estudante da instituição e está há dois anos vendendo
trufas. “Foi uma atividade que eu me identifiquei, além de ser um dinheiro a
mais. Chego de manhã e fico até à tarde, comercializando minhas trufas e
brigadeiros. Quase 100% dos meus clientes são alunos”, conta. De acordo com
ele, por dia, ele atende em torno de 100 colegas.
Concessão
Geraldo Rodrigues do Nascimento,
venceu licitação para exploração do ponto em 2016, com pagamento de aluguel em
torno de R$ 2.500,00, incluindo água e energia. Depois de algum tempo, alegando
usar apenas o espaço da cozinha, conseguiu baixar o pagamento para R$ 452,00.
Quando questionado sobre a
concorrência com os vendedores informais, afirma que “é fácil [para os] alunos
venderem mais barato que eu, eles não pagam aluguel”, defende. Segundo ele, já
fez acordo com uma estudante que vendia doces na Universidade. Passou a
adquirir os seus produtos para serem comercializados na cantina.
Como afirma tentou fazer esse
mesmo processo com os demais, porém sem sucesso, dizendo que esse é um assunto
delicado. Segundo
Nascimento, alguns estudantes já até denunciaram a cantina para a Vigilância
Sanitária de Barra do Garças, que, segundo ele, resultou na aplicação de uma
multa avaliada em R$ 4.650,00.
Em nota, a Vigilância Sanitária da
cidade diz que o proprietário do estabelecimento não realizou interposições de
recursos, no Processo Administrativo Sanitário n° 03/VISA/2018. Assim a
Coordenadoria de Vigilância Sanitária Municipal, decidiu conforme o artigo 8° e
10° da Lei Federal 6.437/1977, combinado com o artigo 199 inciso I e artigo 201
inciso II da Lei complementar 077/2003, bem como artigo 1° da lei complementar
092/2005, pela aplicação de multa, no valor de R$ 519,76.
Responsável pelo processo de
licitação da UFMT Araguaia e fiscalizar dos contratos, Rogério
Marcondes, afirma que o Campus não interfere em assuntos referentes a
Vigilância Sanitária, e desconhece as multas aplicadas à Cantina Araguaia.
Segundo ele a fiscalização sanitária tem acesso para entrar e sair quando
precisar.
Marcondes diz que a universidade
só tem conhecimento da penalidade assinada por Bruno Cesar Souza Moraes,
Pró-Reitor da Pró-reitoria Administrativa (PROAD/UFMT), com fundamento no
artigo 6° do decreto número 8.539, de 8 de outubro de 2015, aplicada no dia 18
de fevereiro de 2018.
A multa foi de R$ 191,24, refere-se a infrações
detectadas pelos fiscais, dentre elas ocorrências contratuais de
falha de organização e acondicionamento dos produtos, atraso no pagamento do aluguel, entre outras.
Foto: Adailson Pereira/Focaia
Rogério Marcondes é um dos responsáveis pela administração e
fiscalização de contratos de licitações da UFMT/CUA, para quem os vendedores informais devem entender que o empresário paga impostos. |
Questionado sobre estudantes que vendem alimentos dentro da área da instituição, Rogério Marcondes relata que desconhece normativas que impeçam a comercialização de produtos realizadas por ambulantes, porém vê que esses universitários precisam entender que o concessionário da lanchonete paga seus impostos para estar trabalhando no mesmo local, e seria injusto disputar com os informais que praticam valores mais baixos e não pagam impostos.
Diante da concorrência dos informais no campus e os valores das multas, Nascimento informa que decidiu deixar o
negócio no Campus Araguaia. Segundo ele encerrará suas atividades no próximo
mês. Como conta é melhor retornar à Cuiabá, onde tem residência fixa, e a
fiscalização dentro da universidade é mais atuante.