Sem Fronteiras e Educação
O governo federal vai deixar de conceder bolsas
de intercâmbio a estudantes brasileiros de graduação pelo programa Ciências sem
Fronteiras (CsF). Em nota divulgada, a Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes) afirmou que o programa, interrompido no ano
passado, será retomado com foco no ensino de línguas "incluindo jovens
pobres já no ensino médio matriculados em escolas da rede pública" e
estudantes de pós-graduação.
A Capes afirma que o
governo vai honrar as dívidas com os bolsistas que ainda estão no meio dos
cursos no exterior. Segundo o órgão, os últimos estudantes do programa em seu
molde original têm contrato de bolsa até o começo de 2017.
De acordo com a atual
gestão do Ministério da Educação, uma "análise preliminar" do CsF
indicou a "necessidade de aperfeiçoamento do programa, especialmente na
graduação, onde as instituições de ensino participantes não foram chamadas para
desempenhar um papel ativo no processo de mobilidade acadêmica".
A Capes afirma que o
governo em exercício considera "elevado" o custo da
graduação-sanduíche. De acordo com os dados divulgados na nota, em 2015 a Capes
gastou R$ 3,248 bilhões para custear o intercâmbio de 35 mil bolsistas,
"valor igual ao investido em alimentação escolar para atender 39 milhões de
alunos".
De acordo com a nota, a
Capes afirmou que a mudança no programa envolve um novo enfoque nos estudantes
do ensino médio e no ensino de línguas tanto no exterior como no Brasil. Além
disso, o órgão pretende aumentar a ênfase na mobilidade de estudantes
professores e pesquisadores de pós-graduação, "com as instituições de
ensino superior tendo uma participação mais ativa nos seus processos de
internacionalização".
Conforme declara Gilberto
Kassab, ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, "a
gestão do Ciência Sem Fronteiras é da Capes e afeta o MEC, portanto, seria
inadequada uma manifestação minha formal. Mas posso dizer que acompanho o tema
e é público que o programa passa por uma avaliação no sentido de aperfeiçoar a
eficiência”.
Ex-ministro rebate críticas
Aloizio Mercadante, ex-ministro da Educação do governo Dilma, afirmou, também em nota, que o Ciência sem Fronteiras promoveu um "choque de internacionalização" que traz "benefícios duradouros para a ciência" e "representa um grande estímulo para a produção do conhecimento". Ele classificou como "um retrocesso inaceitável" a suspensão de novas bolsas para estudantes de graduação.
De acordo com Mercadante,
o CsF enviou 73,3 mil universitários para 2.912 universidades de 54 países, e
que 26,4% dos intercambistas são negros e mais da metade são de famílias com
renda familiar de até seis salários mínimos.
Na nota, ele afirmou
ainda que quase 13 mil ex-bolsistas do CsF já terminaram a graduação e que 20%
deles já iniciaram programas de pós-graduação no Brasil.
Segundo o ex-ministro,
o índice é mais alto que entre a população total de egressos da graduação
(nesse caso, diz ele, menos de 5% dos graduados ingressam na pós-graduação).
"Na realidade, trata-se de um governo interino que quer voltar a um Brasil
em que só os ricos tinham o direito de entrar no ensino superior e de estudar
no exterior", afirmou Mercadante.