Por Carlos
Castilho em 16/09/2013
Uma queixa quase rotineira entre quem lê
jornais, revistas, ouve rádio, assiste TV ou navega pela internet é que a
enorme quantidade de notícias recebidas diariamente complica cada vez mais a
compreensão do que realmente está acontecendo no mundo em que vivemos. Uns
responsabilizam as novas tecnologias, enquanto outros acusam a imprensa. O fato
concreto é que estamos nos afogando num mar de notícias, em meio a
uma sensação de emburrecimento raramente assumida de forma pública.
Este
fenômeno não ocorre porque não somos tão inteligentes ou bem informados como
pretendemos, mas porque está acontecendo uma mudança em toda a estrutura que
tradicionalmente nos amparava na hora de decidir quais os fatos, dados
ou eventos – transformados em notícias pela imprensa –, são relevantes para
nós. A relevância aqui é a capacidade que esses mesmos dados, fatos ou eventos
têm de alterar o meio em que vivemos.
A
imprensa transformou a distribuição de notícias num negócio que,
para ser lucrativo, criou a necessidade de manter o público sempre atraído pela
possibilidade de fatos, dados e eventos relevantes alterarem o seu entorno
social, econômico, político e cultural. Só que quando o leitor é atraído para
uma notícia, esta dispara um processo de três etapas em que a
primeira é a curiosidade de saber o que está acontecendo ou pode acontecer; a
segunda é o entendimento das causas, consequências, prejudicados e beneficiados
pela notícia, e a terceira etapa é a ação, ou seja, decisões sobre o que fazer.
A
imprensa é ótima para acionar a primeira etapa, função que atualmente atingiu
proporções inéditas na história da humanidade graças à avalancha
informativa gerada pela digitalização e pela internet. Essa fase está deixando
de ser tão lucrativa quanto antes, mas ainda determina basicamente o nosso
comportamento diante da notícia.
A
segunda fase somente agora começa a ganhar alguma importância nas redações
jornalísticas, mas ainda de forma precária, porque a imprensa tem muita
dificuldade para lidar com a contextualização, uma tarefa bem mais complexa
do que chamar a atenção. Os limites entre interpretação e opinião são mais
difusos do que a missão de determinar o que é e o que não é notícia. E a
terceira fase, a tomada decisões, ainda é um tabu na imprensa porque contraria
a regra da isenção, incluída em todos os manuais de redação.
Só
que o leitor está numa situação diferente. Para ele, se algo chama
a atenção porque altera, ou pode alterar, o ambiente onde vive, então ele
precisa fazer alguma coisa. Essa tendência à ação passa primeiro pela busca de
elementos contextuais, uma tarefa que está cada dia mais difícil por conta da
avalancha informativa. Depois vem a tomada de decisões, ou seja, a fase final
em que o leitor forma uma opinião que será tão sólida quanto a reflexão e o debate
que a antecederam.
A
imprensa cumpre o papel de chamar a atenção, mas o leitor sente-se
órfão e desorientado em relação às duas outras etapas desse mesmo
processo que é inerente à nossa convivência com a notícia – depois com a
informação (notícia contextualizada) e finalmente com o conhecimento
(informação transformada em capacidade de ação). Daí o surgimento de críticas
cada vez mais agudas ao papel da imprensa no mundo digital.
Cientes
de que não adianta ignorar a tecnologia e nem fazer de conta que a avalancha
noticiosa não existe, muitos pesquisadores da comunicação e do jornalismo estão redescobrindo uma velha função que ganhou uma nova relevância nos tempos
modernos. Trata-se da curadoria, usada antes para selecionar obras de arte para
museus e exposições, e que hoje passa a ser usada para filtrar notícias para
contextos informativos específicos como indivíduos ou grupos de indivíduos.
Essa filtragem reduz os efeitos desorientadores da avalancha informativa e
seleciona os fatos já em função de públicos mais restritos.
A curadoria surge como um complemento e não como um substituto
da imprensa num momento em que o jornalismo ainda busca adaptar-se ao novo
contexto digital no manejo da informação. A curadoria complementa o
jornalismo porque pode ajudar o leitor a identificar de forma mais
detalhada como uma notícia pode alterar o ambiente em que vive, já que a
imprensa como negócio depende da produção de notícias em massa e,
consequentemente, sem poder entrar nos detalhes locais, comunitários e
individuais.
Como
a curadoria não é regida pelas mesmas normas do jornalismo, ela não tem também
as mesmas limitações no que se refere à tomada de decisões, embora,
eticamente, nenhum curador de notícias possa substituir o indivíduo ou
grupos de indivíduos na hora de resolver o que fazer.