O fim do 1000memories e uma internet do esquecimento

Recebi, nessa semana, um aviso do site 1000memories de que o mesmo será encerrado no dia 15 de setembro. Trata-se sempre de um alerta para que o usuário possa recuperar tudo o que postou no sistema, e que provavelmente está ainda salvo muitas vezes sem nos darmos conta. De acordo com as informações do e-mail, o site foi comprado por outra empresa, e modificará completamente; a justificativa da mudança é para aprimorar os sistemas de compartilhamento, principalmente das imagens.
O fim do referido site reforça uma questão que discutimos nos encontros do grupo, e que inclusive carece de um maior aprofundamento nosso. Me refiro ao modo como os usuários participam e se articulam nas redes sociais na internet, principalmente através dos sites e aplicativos de relacionamento e compartilhamento de conteúdos audiovisuais. A questão refere-se à memória nesses ambientes: estariam os usuários preocupados em salvar os conteúdos postados?
A pergunta parece relevante se considerarmos como nesses ambientes digitais as interações estão muito baseadas em falar do “agora” – do que está acontecendo hoje, nesse quase instante. Faça um teste, acesse o seu Facebook – o site mais popular – e veja a pergunta que aparece, cuja retórica também agencia o usuário: “No que você está pensando?”. Note-se que não se trata de falar do que você estava pensando (passado), mas sim do que está ocorrendo (presente).
facebook_home_agora
Essa enquadramento voltado para falar do presente agenciou as interações dos usuários de uma maneira peculiar. Isto porque ao mesmo tempo em que ampliaríamos nossas formas de registrar, guardar os acontecimentos de nossas atividades cotidianas, por outro lado estaríamos pouco centrados em fazer esse movimento de salvar esses dados. Isto porque estaríamos ligados a um presenteísmo que agenciaria nossas ações (e nos cega), de modo a criarmos, inclusive, uma percepção de que seria “velho” – e portanto, orientado ao esquecimento – postagens de uma semana atrás de um amigo ou de nós mesmos.
Nossa experiência no Instagram, por exemplo, nos orientaria para curtirmos ou comentarmos o que nossos amigos postaram agora. Ademais, a possibilidade de alguém resgatar as fotografias realizadas durante um ano, para arquivá-las no computador ou mesmo imprimir em um álbum, é remota. Pois essas imagens possivelmente foram importantes para o estabelecimento de interações naquele momento em que foram compartilhadas, e não serviriam então como referências imagéticas para uma vida inteira – com uma duração maior do que o dia do post.
Pensando dessa maneira, os usuários se interessariam mesmo em recuperar essas informações postadas nos sites? O Facebook permite a recuperação, mas a importância dessa ação não estaria baseada na preocupação dos usuários com a perda dessas informações, mas principalmente pelas implicações legais associadas ao controle dos dados que a plataforma têm dos seus usuários.
Daí, uma questão final persiste: será que as pessoas procurarão recuperar sua memória no 1000memories?
Fonte: Gits